O geógrafo Tsunessaburo Makiguti
A obra Geografia da Vida Humana que este ano completou o centenário
Em lugar de apenas fornecer o conhecimento em si, devemos incentivar a alegria e a emoção que surgem da aprendizagem. (Tsunessaburo Makiguti)
A paixão pela educação moldou-o. Embora oriundo de uma família pobre e desestruturada – seu pai abandonou a ele e sua mãe e, logo depois ela também o deixou – Tsunessaburo Makiguti não se deixou abater. Com o ardor de quem tem um verdadeiro ideal, desde muito jovem já sabia que a Educação seria sua grande meta de vida.
Foi assim que o educador Tsunessaburo Makiguti, ao despertar para a sua vocação, percebeu que algo muito errado estava se passando em seu país. Em especial, com o sistema educacional. Observando, estudando e refletindo muito sobre os aspectos que considerava equivocados, aos 32 anos, publicou uma grande obra: Geografia da Vida Humana. Neste livro ele enfatiza a relação de interdependência entre o homem e a natureza. A atualidade da obra de Makiguti reflete-se na expressão contemporânea: “pensar globalmente, agir localmente”. Um dos pontos centrais desta obra está expresso no seguinte trecho:
“o ponto inicial e natural para compreender o mundo e nossa relação com
ele é a comunidade (uma comunidade de pessoas, de terra e cultura)
que nos dá origem. É essa comunidade que nos concede a própria vida e nos
inicia no caminho para nos tornar as pessoas que somos. É ela que
nos oferece a base como seres humanos, como seres culturais.”
O ano da publicação, 1903, antecedeu em pouco tempo a Guerra Russo-Japonesa. A Restauração Meiji, que encerrou a “Era dos Samurais” e alçou enfim o Japão à Era Moderna, completava apenas 35 anos. Bem pouco tempo, uma vez que o Xogunato Tokugawa durara mais de dois séculos. Neste início de novo século, intelectuais de todas as áreas se perguntavam "O que é o Japão?" e "O que é o mundo?".
Durante sua permanência em Londres, o romancista Soseki Natsume elaborou sua filosofia e visão do mundo. O compositor Rentaro Taki trouxe novos ritmos ao mundo da música japonesa com a introdução de estilos ocidentais. O romancista e cientista médico Ogai Mori traduziu a literatura ocidental para o japonês. Foi também nesses anos que a tradição e cultura japonesa foram reinterpretadas e reafirmadas por meio de publicações como Bushido: A alma do Japão, de Inazo Nitobe; O homem típico do Japão, de Kanzo Utimura; e o Livro do Chá de Kazuki (a.k.a Tenshin) Okakura. Eles eram os maiores beneficiários dos contatos com a civilização ocidental, alguns deles homenageados tendo seus retratos estampados nas atuais cédulas de iene. Em contraste, Makiguti não teve uma carreira acadêmica brilhante e nem estudou no exterior. Ele obteve formação nos estudos enquanto trabalhava em Hokkaido, ilha do extremo norte do Japão.
Por muitos anos, ele foi um geógrafo desconhecido e morreu na prisão durante a guerra como um prisioneiro de consciência.
No entanto, a principal obra de Makiguti, Geografia da Vida Humana, apresenta uma visão do mundo e da civilização que supera as obras de seus contemporâneos.
Makiguti tinha 32 anos quando esse livro foi publicado. Somente 25 anos depois, em 1928, ele conheceu o Budismo Nitiren. É digno de nota que o educador e geógrafo autodidata conseguiu formar uma visão única de mundo com tão pouca idade.
Este ano completou-se o centenário de sua publicação e, segundo os mais importantes estudiosos da atualidade, mantém-se impressionantemente atual. Seguem alguns trechos que demonstram esse fato:
Montanhas
"As principais religiões do mundo se desenvolveram nas regiões montanhosas. Por exemplo, o Buda Sakyamuni, nascido no Nepal, deu início aos três mil anos de tradição do budismo no Pico da Águia ao sul da Cordilheira do Himalaia."
O budismo foi pregado primeiro na região ao sul da Cordilheira do Himalaia. Moisés ouviu os Dez Mandamentos no Monte Sinai. Referindo-se a vários exemplos, Makiguti deduz que as montanhas são lugares em que o céu e o ser humano se unem. Sobre a história de veneração às montanhas no Japão, ele comenta que o homem reconhece sua pequenez em contraste com a imensidão do céu quanto mais se aproxima dele. Makiguti diz: "O reconhecimento de que há algo mais amplo e maior é o ponto inicial para a religiosidade".
Makiguti passou sua juventude em Hokkaido. Ele descreve o monte Moiwa ou Maruyama em Sapporo como o "melhor jardim para se divertir" depois de um inverno rigorosíssimo de meio ano. Ele acrescenta: "Nada é mais querido do que as montanhas", e "as montanhas são lugares para forjar o caráter".
Regiões litorâneas
"O local onde o mar e a terra se encontram é a melhor área para a habitação humana... O litoral e a civilização têm uma certa relação de proximidade. Grécia, Noruega e Reino Unido - muitos países com uma longa região costeira foram vanguardistas da civilização ocidental e prosperaram na pesca e no comércio”.
Considerando a relação entre o desenvolvimento cultural e a extensão dos litorais, Makiguti observa que isso depende da quantidade de bons portos existentes ao longo da costa do país.
As escolas Soka de ensino fundamental e de ensino médio participam do programa educacional EarthKAM. Os alunos têm a oportunidade de fotografar a Terra com uma câmara digital montada na Estação Espacial Internacional (ISS, International Space Station). A visão cósmica de Makiguti apresentada em Geografia da Vida Humana está sendo propagada por seus sucessores.
O papel e a influência dos rios na vida do homem
"Os rios são para a terra o que as veias são para o corpo humano: graças aos rios, a terra pode manter-se viva. A falta de água torna a terra deserta; a terra não irrigada é comparável a um corpo paralisado. Quando a terra é suprida por um sistema de abastecimento de água eficiente, os seres humanos podem conduzir uma vida social normal, saudável e feliz. (...)
"Considero a influência dos rios em nossa vida em termos de vários fatores individuais. Na realidade, entretanto, são todos esses fatores interagindo juntos que influenciam a vida humana de vários modos. Os rios provêm às plantas solo fértil e água e aos animais, água para beber. Eles contribuem para a transmissão e disseminação de plantas e animais. Salmões e trutas, produtos especiais de Hokkaido, nadam contra a correnteza e desovam próximo da nascente dos rios. Além disso, as ações erosivas dos rios descobrem veios de minerais e metais preciosos, lavam substâncias nocivas, e depositam camadas e camadas de rico solo arável em suas bacias hidrográficas. Essas são apenas algumas das influências físicas dos rios em nossa vida. Os rios também influenciam nossa vida espiritual. Eles são o berço de antigas civilizações. A civilização egípcia, por exemplo, desenvolveu-se ao longo do Nilo.
A civilização da Mesopotâmia cresceu ao redor das águas do Tigre e do Eufrates. A civilização indiana emergiu do Indo e a chinesa, do Amarelo e Yang Tsé. Já a romana surgiu do Tibre, e a moderna civilização européia nasceu do Reno e do Tâmisa. (...)
"Assim como as montanhas os rios influenciam profundamente nossa mente e nosso espírito. Enquanto as montanhas nos dão a impressão de elevação, força e grandeza, os rios nos transmitem paciência, perseverança e magnanimidade."
Fonte: Editora Brasil Seikyo
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