“A terra não pertence ao homem; o homem pertence a terra. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer sobre a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo”. (Chefe Seatle, 1854)
Planeta Terra: nosso habitat ameaçado
O texto acima é parte de um dos mais profundos documentos já escritos. O autor é um chefe índio estadunidense em resposta ao então presidente dos EUA, que lhe propunha a compra de suas terras. Em 1985 a Organização das Nações Unidas – ONU – instituiu a primeira segunda-feira de Outubro, como o Dia Mundial do Habitat, uma data para refletir sobre o propósito de tudo o que o ser humano realiza em sua casa, o planeta Terra. É uma ocasião para todos compartilharem e se conscientizarem sobre sua responsabilidade quanto ao futuro do habitat humano.
A partir deste ano, a ONU estabeleceu 8 objetivos gerais que repercutem diretamente em nosso habitat e que têm um prazo estabelecido para serem cumpridos: 2030. São também conhecidos como "8 Jeitos de Mudar o Mundo", os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM):
1. Reduzir pela metade o número de pessoas que vivem na miséria e passam fome. Cerca de 980 milhões de pessoas no mundo vivem com menos de 1 dólar por dia. Algumas ações sugeridas são: o apoio à agricultura familiar, programas de educação e projetos de merenda escolar.
2. Educação básica de qualidade para todos. Cento e treze milhões de crianças ainda não freqüentam a escola no mundo. Fornecer material didático gratuitamente e capacitar professores são parte das iniciativas adotadas pelos governos.
3. Igualdade entre os sexos e mais autonomia para as mulheres. Dois terços dos analfabetos são mulheres. A ONU sugere projetos de capacitação e melhoria da qualificação profissional feminina e a criação de oportunidades de inserção das mulheres no mercado de trabalho.
4. Redução da mortalidade infantil. A cada ano, 11 milhões de bebês morrem de causas diversas. Investimento em saneamento básico, estímulo ao aleitamento materno e campanhas de esclarecimento sobre higiene pessoal e sanitária são algumas das medidas propostas.
5. Melhoria da saúde materna. Nos países pobres e em desenvolvimento, a cada 48 partos uma mãe morre. As ações passam por iniciativas comunitárias de atendimento à gestante, no pré e pós-parto, e por programas de apoio à saúde da mulher.
6. Combate a epidemias e doenças. A cada dia, 6.800 pessoas são infectadas pelo vírus HIV. A cada ano, dois milhões de pessoas morrem de tuberculose e um milhão, de malária. Distribuição gratuita de remédios e campanhas de vacinação estão entre as propostas.
7. Garantia da sustentabilidade ambiental. Os governos apostam em programas de coleta seletiva e reciclagem, no suporte a projetos de pesquisa na área ambiental e no estímulo a práticas sustentáveis, divulgadas em empresas, escolas e comunidades.
8. Estabelecer parcerias mundiais para o desenvolvimento. O intuito é diminuir a desigualdade entre os países. Apoio à capacitação profissional de jovens de baixa renda, mobilização de voluntários na área da educação e estímulo a projetos voltados ao empreendedorismo estão entre as ações.
Não por acaso, o tema da proposta de paz deste ano do filósofo, humanista e pacifista, dr. Daisaku Ikeda é Compromisso de todos com um mundo mais humano: acabar com a miséria da Terra.
O futuro depende do inadiável compromisso de todos e de cada um para que ninguém mais, inclusive as gerações vindouras, venha a suportar os sofrimentos que nos afligem (...) frases como ‘acabar com a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares’, ou ‘assegurar vida saudável e promover o bem-estar de todos, em todas as idades’, não são meras palavras: significam o compromisso de respeitar a dignidade de todas as pessoas. Sem exceção.
Esta breve introdução deixa claro o teor deste documento. Ao longo de todo o texto, Ikeda discorre sobre os objetivos da ONU e clama por uma reumanização em todos os setores, em especial, na política e na economia. Cita uma das frases de grande impacto proferida pelo papa Francisco há dois anos: “um desabrigado morre de frio e não é notícia? Mas quando a bolsa cai dois pontos sai na primeira página?”. Como e quando é que perdemos nosso senso de humanidade? Quando e por que a perda de uma vida humana tornou-se um fato banal e sem importância, como se o ser humano não passasse de um mero número?
Não se mede o grau de desenvolvimento de um país pela quantidade de riqueza acumulada, mas pelo grau de miséria que impõe a seu povo. Nosso habitat – nossa casa – é, até o momento, nosso único lar. Que é finito. Que está enfermo e necessita de cuidados. De todos e de cada um. Miséria sim é pobreza, é sofrimento, é degradação e é ultrajante e que por isso deve e precisa ser combatida em todas as suas formas.
O simples ato de refletir é um começo. E, a partir dessa reflexão, traçar uma linha de ação, mesmo que simples e quase imperceptível. Todo dia um passo, gradual e constante. Essa é a essência da filosofia humanística da SGI e que mais de 12 milhões de pessoas no mundo proclamam e professam.
São três as propostas concretas elencadas pelo pacifista Ikeda “para eliminar a palavra miséria do léxico humano”:
1. A proteção dos direitos humanos dos desabrigados e migrantes internacionais;
2. A proibição e eliminação das armas nucleares;
3. A conquista de uma sociedade global sustentável.
Ele finaliza o documento relembrando a fundação da SGI há quarenta anos na ilha de Guam, com a presença de representantes de 51 países e territórios. Nessa ocasião foi firmada uma declaração cuja essência enfatiza e encerra este artigo:
Na criação da paz, os laços de coração a coração, entre pessoas que despertam para a dignidade da vida, são mais fortes que os laços econômicos ou políticos entre nações (...) A paz duradoura não pode ser alcançada sem a conquista da felicidade da humanidade. Nosso objetivo é fazer do ideal budista de benevolência um novo elemento filosófico que, a partir de agora, estimulará o espírito necessário para garantir a felicidade e a sobrevivência da humanidade.
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